Tony Patriot presta-se a servir aos EUA contra a Síria na ONU
Aceitou apresentar declaração proposta pelos EUA no CS da ONU que interfere nos assuntos internos sírios usando os direitos humanos como pretexto
Detalhes Adicionais
O alerta feito pelo ex-presidente Lula na Escola Superior de Guerra (ESG), na semana passada, de que o Brasil não deveria “concordar” com as iniciativas guerreiras das grandes potências, não foi levada em conta pela atual cúpula do Itamaraty.
Depois de condenar a Síria baseando-se em “informações” unilaterais, não confiáveis, e ainda por cima amplificadas pelas agências dos países belicistas, o ministro Patriota resolveu “costurar” para os EUA na ONU uma condenação “consensual” às autoridades daquele país.
“Não temos e não podemos concordar com o que foi feito na Líbia. Hoje foi lá e amanhã pode ser aqui. Se tivesse um Conselho de Segurança (CS) forte não teria acontecido”, destacou o ex-presidente Lula.
Os 15 membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas “fecharam” na noite de terça-feira – com o protesto do representante do Líbano - um texto com base supostamente em algo que foi apresentado como “proposta do Brasil” e do Reino Unido.
O texto tem tanto a ver com a doutrina diplomática do Brasil quanto Rio Branco tem a ver com John Foster Dulles e outros megarefes do Departamento de Estado dos EUA. O porta-voz do Itamaraty, Tovar Nunes, ameaçou o governo sírio, dizendo que a decisão pode não ficar só numa declaração presidencial (medida que ainda não autoriza a agressão).
“Os elementos que estamos apresentando se encaixariam bem numa declaração presidencial, mas não está excluída nenhuma hipótese”, afirmou.
Mais tarde, o próprio Patriota entrou em cena - ou em telefone - para pressionar o governo do Líbano, que recusou-se a aprovar a resolução (ver página 6).
CONSENSO
O ministro Patriota e seus associados parecem estar querendo tapar o sol com a peneira quando falam, numa questão de Direito Internacional - de autodeterminação de uma nação amiga do Brasil - que “um consenso” seria bem vindo.
A fatídica Conferência de Munique, em 1938, foi um “consenso” - a favor de Hitler - e perpetrou um dos maiores crimes da História, ao entregar os Sudetos, portanto, a Tchecoslováquia, aos nazistas.
O resultado todo mundo conhece.
Mas, contra a Líbia, nem pelo consenso eles esperaram.
Os EUA e a Otan passaram imediatamente a agredir o país norte-africano, apesar das abstenções de 4 países, inclusive o Brasil, em aprovar a zona de exclusão aérea. Ali também eles aprovaram primeiro a “condenação”. Depois vieram as “zonas de exclusão aérea” e logo os bombardeios criminosos contra a população líbia. E, agora, como as forças da Otan estão sendo derrotadas pelo heroísmo dos líbios, a reação dos agressores é ampliar ainda mais os bombardeios, atingindo indiscriminadamente escolas, hospitais, museus, residências, etc. São os “bombardeios humanitários” da Otan.
A coisa se repete agora em relação à Síria.
E a resolução que o ministro Patriota (aliás, um nome bastante inadequado) ajudou a aprovar contra o país árabe não deixa dúvida sobre quais são as intenções americanas e européias na região: “O Conselho de Segurança condena as violações generalizadas de direitos humanos e o uso da força contra civis por parte das autoridades sírias”. E prossegue: “o Conselho de Segurança demanda as autoridades sírias a respeitar plenamente os direitos humanos e a cumprir com as suas obrigações de acordo com o direito internacional”. E dá a senha: “Os responsáveis pela violência devem ser responsabilizados”.
Não parece familiar?
Pois, como fizeram antes, EUA e os países europeus nem esperaram muito e já ampliaram as sanções contra a Síria. Só falta agora embolsar os recursos estatais dos sírios depositados no exterior para “armar os rebeldes” e iniciar os “bombardeios humanitários” sobre o país, como os que foram feitos sobre a TV líbia na semana passada.
Por falar em tentativa de calar a TV, o governo sírio informou - pela TV - que o conflito começou porque pessoas armadas bloquearam estradas e atacaram postos de polícia na cidade provocando incêndios e a morte de três militares.
Segundo ainda o governo, os grupos armados usavam motocicletas e atiravam aleatoriamente contra instalações públicas da cidade.
As autoridades informaram que o Exército foi acionado para conter a violência em Hama. Houve enfrentamentos entre as tropas regulares e os atiradores.
Não levar em conta o conjunto de informações e basear a atuação diplomática em ONGs com pouca credibilidade e “agências” noticiosas bancadas pelos países interessados em uma campanha para desestabilizar a Síria, definitivamente não faz parte da tradição da diplomacia brasileira.
Desde quando nossa diplomacia se baseia no que a mídia diz a respeito de um assunto, ignorando completamente o que o governo de um país amigo está dizendo?
E desde quando o Brasil apoia sublevações contra governos legalmente constituídos e reconhecidos por nós?
Que direito tem o ministro Patriota de dizer que é “inteiramente inaceitável” um suposto massacre de opositores na Síria, sem nem saber se existiu tal massacre, até agora ventilado apenas pela mídia e outros aparelhos imperialistas?
Essa atitude servil está sendo, é claro, aplaudida pelas potências belicistas.
“As propostas apresentadas pelo Brasil são muito similares à condenação proposta pelos países europeus e apoiada pelos Estados Unidos”, revelou à Agência Efe o embaixador alemão adjunto perante a ONU, Miguel Berger.
O diplomata alemão detalhou que o conteúdo é o mesmo: “nós pensamos o mesmo, temos a mesma preocupação e por isso vamos seguir trabalhando em conseguir que a substância da condenação seja a que desejamos”, acrescentou Berger.
Já o chefe militar americano, Mike Mullen, afirmou que a condenação “facilita o aumento da pressão” sobre o governo da Síria.
POSIÇÃO
Seguir nesta postura subalterna inevitavelmente vai provocar o enfraquecimento da liderança que o Brasil duramente conquistou no cenário internacional. Não é essa a posição do Brasil, nem a que o mundo se acostumou a ver nos conflitos internacionais mais recentes.
Estão começando a ecoar fortes as afirmações categóricas de Lula, diante de situações semelhantes. “A guerra do Brasil não é essa. A guerra do Brasil é contra a fome”, dizia ele.
Enquanto isso, outro integrante dos BRICs, a Índia, apresentou uma postura bem mais vertical nas discussões sobre o conflito na Síria.
O embaixador da Índia afirmou que acredita que a situação na Síria “não é só uma na qual o governo ataca manifestantes inocentes, mas que as forças de segurança também foram alvos de ataques que mataram 350 soldados”, denunciou.
SÉRGIO CRUZ
Jornal Hora do Povo
Nenhum comentário:
Postar um comentário